sábado, 26 de junho de 2010

De repente, adolescente

Na infância tudo é graça,
Sonho doce e sereno.
Formigas são soldadinhos.
As nuvens, algodão doce
onde a imaginação nos faz viajar,
deslizar e brincar como anjos
sob um céu de ouro que a tudo
faz brilhar.
Não dá para diferençar
a realidade da fantasia.
De dia sonhamos acordados,
à noite sonhamos dormindo
embalados por cantigas
ou estórias da Carochinha,
contadas pela voz de uma fada madrinha
que durante dia inteiro
advinha os nossos pensamentos.
E na hora das broncas
só tem conotação de cuidados.
Pena que dura pouco
e lá se vira uma das páginas
mais coloridas de nossas vidas.
E, quando nos espantamos,
de repente num ponto sem definição.
Nem criança, nem gente grande.
Adolescente!
Esquisito ouvir uma voz que nunca se afina.
Ora grave, ora aguda...
Pêlos, muitos pêlos por toda parte.
Sem falar naquele cheiro esquisito.
Haja desodorante!
Dentes, antes pequenas pérolas,
Hoje, pedaços de marfim
que crescem desordenados
precisando de grampos e ligas
para que fiquem bem organizados.
Pele, antes suave como a do pêssego,
agora é só espinhas.
No que me transformei?!
Colo, hoje? Não posso pedir.
Meus pais parecem que encolheram,
pois gigante me tornei.
Para mim eles assemelham a duas
crianças mandonas.
Todo tempo a me cobrar.
- Dever! Tarefa! Estudar!
Preciso entender melhor
e tentar executar cada orientação
ensinada de coração.
Hoje tudo ficou tão sério.
Diante de tanta transformação,
de tantas mudanças,
tanta responsabilidade,
penso em pedir socorro.
Dá-me vontade de voltar,
se fosse possível,
a ser criança de novo.
Como é que são as coisas.
Antes eu que tanto sonhava
em crescere fic ar adulto...
Agora, com essa possibilidade,
me acovardo e me assusto.
- Como é difícil crescer!
Uma coisa é muito certa,
ainda que cresçamos ou envelhecemos,
nunca deixamos de ser crianças.
E, embora fiquemos mais sérios
ninguém pode negar que coisa boa
é a infância.
Por mais que digam o contrário,
prefiro acreditar que todo adulto
é uma criança crescida.
Um pouco mais vivida,
mas que traz em sua memória
as experiências marcantes
das quais as mais importantes
vêm de quando eram crianças e,
com mais sensibilidade percebiam
a beleza nas mais simples coisas
de toda a natureza.

Edina L. Gomes Smith – 1/4/06.

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